Agrivabe obtém certificação GMP I

A Agrivabe, na sua vertente de produção de Canábis Medicinal, acaba de obter a certificação GMP Parte I (good manufacturing practices), atribuída pelo Infarmed, que corresponde à autorização de fabrico de medicamentos de uso humano para a produção de canábis medicinal. Esta certificação culminou um processo integrado por várias etapas, acompanhado por aquela entidade, em que a empresa evidencia deter as condições necessárias para desenvolver a atividade industrial farmacêutica, desde as instalações à vertente técnica e aos recursos humanos inerentes.

Deste processo fez parte a obtenção da licença de cultivo GACP, a sigla em inglês que corresponde a good agricultural and collection practice, ou seja, o cumprimento de boas práticas agrícolas e de colheita, em finais de 2020, e a produção dos primeiros lotes em 2021. A Agrivabe já detém, igualmente, a certificação GMP Parte II (good manifacturing practices), atribuída para o fabrico de substâncias ativas dos medicamentos, desde outubro de 2022.

Na fase de cultivo, a canábis medicinal é produzida em estufa, uma das três modalidades para o crescimento desta planta, que necessita entre 12 e 24 horas de luz, consoante a fase de desenvolvimento em que se encontra, desde a germinação ou clonagem até à colheita, num ambiente controlado de luz, fluxo de ar, temperatura e humidade. Após ser colhida, a planta passa por uma sucessão de etapas de fabrico, tais como a secagem, o trimming das folhas e a estabilização, preservando-se por fim a flor seca, em que se resume o que interessa no produto ̶ explica Fátima Moleiro, Diretora Técnica da Agrivabe. O processo consiste em transformar um ser biológico, uma planta, num produto medicinal ̶ como define Filipe Avelar, CEO da empresa.

A certificação agora atribuída, considerada uma grande vitória para a Agrivabe pelos responsáveis, abre portas para a exportação deste produto inovador para os mercados, entre outros, europeu e australiano, ao encontro da sua vocação de produzir para o mercado internacional. Concedida este mês, esta licença surge numa fase a que o CEO chama o «renascer» da empresa, caracterizada pelos objetivos definidos, pautada pelo bom senso e pela permanente atenção ao mercado e à respetiva evolução. De resto, a área de negócios em que atua exige, além do investimento, resiliência e persistência a médio e longo prazos.

Atualmente, a Agrivabe produz de acordo com as encomendas colocadas, procedimento em linha com toda a atuação na indústria farmacêutica. O atual quadro permite aos responsáveis pela empresa um claro otimismo quanto ao cumprimento dos objetivos evidenciados.

A produção de canábis medicinal surge num contexto de grande preocupação, por parte das instâncias da União Europeia, com a segurança dos consumidores, no que toca ao uso de canábis num quadro em que se verifica a circulação de produtos não licenciados cujos efeitos podem ser nocivos para o ser humano.

A Agrivabe, inicialmente conhecida pela sua vertente agrícola, na produção de frutos tropicais, antecedeu a criação da sua vertente medicinal, empresa farmacêutica. Instalada na Quinta do Mirante, na localidade de Luz de Tavira, no Sotavento algarvio, a empresa, no seu todo, dispõe de 130 mil m2 de estufas góticas e emprega 55 pessoas. No plano de atuação entre o presente ano e até 2030, a Agrivabe propõe-se tornar-se líder nacional de referência na produção de canábis legal nos próximos cinco anos.

Recorde-se que a legislação que regula a produção de canábis medicinal foi publicada em Portugal em 2018. Além dos medicamentos (aprovados mediante a atribuição de uma AIM), existem preparações e substâncias à base da planta de canábis que podem ser comercializados em Portugal mediante a aprovação de uma ACM (Autorização de Colocação no Mercado) pelo Infarmed, existindo sete indicações terapêuticas aprovadas por este instituto. A canábis medicinal pode ser utilizada no tratamento de um conjunto de doenças, mediante prescrição médica e nos casos em que os medicamentos convencionais não atuam. Conquistou reputação graças à sua capacidade de proporcionar qualidade de vida aos doentes.

Entre as doenças referidas, contam-se a Espasticidade associada à esclerose múltipla ou lesões da espinal medula; náuseas, vómitos (resultante da quimioterapia, radioterapia e terapia combinada de HIV e medicação para hepatite C); Dor crónica (associada a doenças oncológicas ou ao sistema nervoso, como por exemplo na dor neuropática causada por lesão de um nervo, dor do membro fantasma, nevralgia do trigémio ou após herpes zoster); Síndrome de Gilles de la Tourette; Epilepsia e tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, tais como as síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut; Glaucoma resistente à terapêutica. É usada na estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes sujeitos a tratamentos oncológicos ou com SIDA.

 

27 de março de 2023