Para assinalar o arranque da nova produção SP Televisão, Flor sem Tempo, iremos apresentar-lhe, ao longo do mês de fevereiro, algumas das caras que trabalham diariamente para o resultado final, desde a autoria aos produtores e realizadores, passando pelos atores e equipa técnica.
Iniciamos esta incursão com uma entrevista ao Diretor deste Projeto, Jorge Queiroga. O Jorge iniciou a sua carreira em 1994 na Sétima Arte, contando com mais de 25 anos de experiência em cinema e televisão e mais de 40 produções e diversos prémios e nomeações no seu currículo.
Quando decidiu ser realizador? O que o motivou?
Não foi propriamente uma decisão, mas sim por influência familiar. O meu avô, com quem eu tinha uma relação bastante próxima, era realizador. E divertia-me imenso nos estúdios dele. Creio que foi esta vivência que me levou a seguir os passos do meu avô e a enveredar pela área da realização.
Depois de ter experimentado quase todos os géneros – cinema, comédia, documentário, novela – entre outros, o que lhe dá mais prazer fazer?
Gosto de qualquer género, desde que conte uma boa história. O que mais me motiva é contar boas histórias com bons personagens. No fundo, as histórias estão por trás de um bom produto, independentemente da sua natureza.
Como se prepara a realização de uma novela?
Apesar da novela ser, de alguma forma, um produto mais industrializado, nunca gosto de o encarar dessa forma, porque isso pode bloquear-me em relação à procura de novos caminhos para a abordagem da mesma. Quando preparo uma nova novela, leio a proposta e a sinopse, e questiono-me permanentemente, “E se isto fosse uma coisa diferente? Se fosse um disparate ou dito de outra forma?”, tento não ter barreiras para poder sair da caixa e visualizar diferentes formas de abordar um projeto.
A partir daqui é que nasce a linguagem, as particularidades das personagens, a conceptualização dos décores, e por aí em diante. Depois desta fase, já tudo está mais sólido e torna-se muito mais fácil desenvolver a história. Nunca tenho, nem quero ter, a sensação que estou a trabalhar num projeto idêntico a outro que tenha desenvolvido. Nem gosto disso. Para mim, um projeto, não é apenas mais, mas sim o projeto.
Que desafios lhe trouxe a novela Flor sem Tempo?
O grande desafio foi sem dúvida a solidificação das personagens e dos protagonistas, como é o caso da Catarina, interpretada pela Bárbara Branco e o Vasco, pelo Francisco. Assim como da chamada personagem coletiva que é a família dos Torres. Uma das minhas preocupações foi tentar que as personagens sejam consistentes, que tenham muitas matizes e que a estruturação e desenvolvimento de cada uma delas seja coerente e atrativa. O desafio seguinte é também tentar aportar riqueza na abordagem técnica, nos décores e fazer algumas experiências, para perceber o que melhor funciona de acordo com o que idealizei.
Temos dois exemplos muito interessantes em Flor Sem Tempo, na minha opinião: em primeiro lugar, a criação de uma rua em pleno estúdio, que dá uma riqueza enorme aos décores que fazem parte dessa mesma rua, bem como às cenas de circulação na rua, dia e noite. O segundo bom exemplo é o facto de termos criado uma personagem que vive num barco e termos construído, de raiz, o interior do mesmo em estúdio. Isto permite-nos transportar esse barco para qualquer lugar do mundo, desde que tenhamos um stockshot do barco nesse mesmo local. O que confere à história uma interessante abordagem, até porque o protagonista irá fazer uma longa viagem e iremos transportar o barco par ao outro lado do mundo, mas na verdade, as cenas do interior serão no estúdio.
Pergunta sacramental: cinema ou televisão?
São coisas que parecem muito diferentes, mas não são. Antes de existir a televisão, já existia o cinema. Acabamos todos por ir buscar a linguagem e a gramática que vem daí. É claro que as coisas se autonomizam, hoje em dia, por exemplo, a televisão é um meio de difusão e de produção completamente autónomo do cinema e não têm nada a ver um com o outro nesse aspeto. O que é que têm em comum? As histórias que contamos. Para uma história ser boa, tem de ser boa no cinema, na televisão, na rádio, na ópera. No fundo, contamos uma narrativa com sons e imagens e isso não dá para distinguir entre o que é o tratamento ou a abordagem de um formato ou outro.
Aliás, a televisão tem, hoje em dia, uma característica particular que eu gosto muito, a liberdade de abordagem e experimentação, que se está a desenvolver muito, não só nas novelas mas em outros formatos, como nas séries, ou seja, é um mundo muito rico. A televisão tem algo que para mim é fundamental, a capacidade de repensarmos todos os dias o que estamos a fazer, porque são processos contínuos e longos. É muito diferente de eu ir para casa, depois de preparar um filme em dois anos e gravá-los em dois, fim da história. Na televisão, tenho de pensar todos os dias no meu trabalho para ver como é que ele resulta melhor no ecrã e esse é um exercício típico da televisão. Pode dizer-se que a televisão é uma máquina vertiginosa e muito rápida, mas eu gosto de andar a essa velocidade, é muito mais desafiante.
SP TELEVISÃO / LUÍS MARINHO
3 de fevereiro de 2023