João Pedro Lopes, CEO da SP Televisão, nos 15 anos da produtora: «O factor-chave de sucesso são as pessoas»

CEO da SP Televisão, produtora independente de referência em Portugal, que acaba de completar 15 anos, em entrevista ao site do Grupo Madre, João Pedro Lopes destaca os momentos mais relevantes da última década e meia. Em particular, por se tratar de uma produtora que começou do zero, em 2007,e que alcançou a internacionalização. Revela que encara o futuro com otimismo e destaca o valor que atribui às pessoas – de autores, atores a técnicos – todo um leque de profissionais que constituíram o fator-chave do sucesso da empresa desde a sua fundação. Ao encarar o audiovisual como uma indústria cultural e criativa, a SP Televisão apostou na tecnologia, assim como na formação e motivação de quadros e colaboradores.

– Disse um dia que acreditou no projeto inerente à fundação da SP Televisão desde o início, em 2007. Quinze anos passados, que vertente do desenvolvimento da empresa o surpreendeu mais?

– Acreditei na SP Televisão em 2007 e continuo a acreditar em 2022, agora uma empresa mais sólida e com objectivos ainda mais ambiciosos. Foram 15 anos intensos e o que fica é a capacidade em concretizar séries e novelas que desenvolvemos, e que começaram como ideias no papel, em projectos audiovisuais que foram sucesso de audiências e que conquistaram prémios internacionais. Para isso foi, e continua a ser, fundamental agregar talento.

– Qual era a sua disposição na manhã do dia 5 (data do aniversário)? De grande satisfação pessoal?

– Nem de perto, nem de longe. Para mim, estes são momentos que me levam para a reflexão. Analisar o passado, aprender com as experiências, e, acima de tudo, pensar o futuro.

– O desenvolvimento da empresa correspondeu também a um crescimento pessoal para si?

– São 15 anos vividos com grande intensidade, e os desafios profissionais transformam-se também em desafios pessoais, em que aprendemos a conhecer-nos melhor.

– Com o distanciamento que esta década e meia permite, quais foram, em sua opinião, as maiores realizações e, por outro lado, os maiores desafios?

– Destaco um desafio de 2007 e outro recente. A criação de uma produtora a partir do zero e agora a internacionalização. Quanto a realizações, foram imensas ao longo destes 15 anos, e confesso que não consigo destacar uma ou outra, todas elas tiveram a sua importância em determinado contexto, independentemente da sua dimensão, e foram decisivas para a empresa.

– O que contribuiu para a SP Televisão se destacar, no contexto do país, tornando-se rapidamente uma produtora independente de referência, com alcance internacional? Algum aspeto foi particularmente decisivo?

– A capacidade de ter as melhores equipas e o facto de encararmos o audiovisual como uma indústria cultural e criativa, o que os leva a apostar na tecnologia, assim como na formação e motivação dos nossos quadros e colaboradores.

– É comum comentar a enorme evolução por que o Audiovisual passou, ao longo dos últimos anos, ou décadas, em Portugal. Considera que se deu mais ao nível técnico, ou da criação de conteúdos, ou seja, da escrita?

– Existiu uma enorme evolução da componente técnica, mas o factor-chave de sucesso são as pessoas. Temos mais e melhores autores, realizadores, actores, produtores e técnicos, e isso faz, cada vez mais, a diferença num mercado globalizado que é altamente competitivo.

– A pensar nos progressos dos últimos anos, o último relatório da APIT (2021), tornado público na semana passada, identifica diversas tendências no período em apreço: a democratização da experiência de streaming e o facto de se «encontrar mecanismos para o desenvolvimento da indústria local em termos nacionais», e também a possibilidade de «usar as tecnologias ao seu dispor para criar espaços de extensão», por exemplo. Como encara estas mudanças?

– Como oportunidades que não podemos desaproveitar. A forma de consumir conteúdos mudou e continuará a mudar. O grande desafio passa por captar novos públicos e manter os actuais. E quando falo de novos públicos, não me refiro apenas aos mais jovens, falo do mercado global.

– As plataformas de streaming trouxeram grande visibilidade a produções de países pequenos, de que Portugal é um exemplo, à semelhança do Leste europeu, dos países nórdicos, etc. Isso corresponde a uma mudança de paradigma?

– As plataformas de streaming são importantes para o desenvolvimento, mas não devemos olhar para elas como a solução para todos os problemas, até porque tenho dúvidas de que o volume de encomendas em Portugal cresça de forma exponencial. O mercado interno, as co-produções internacionais e a diversificação dos negócios continuarão a ser fundamentais para as produtoras nacionais. De referir ainda a importância da transposição da directiva europeia sobre o audiovisual – AVMS, a qual impõe obrigações de investimento, não só a plataformas de streaming, mas também a canais transmitidos por cabo.

– Isso significa uma abertura de oportunidades. E, a esse respeito, quer comentar o fenómeno Glória?

– Quando apostámos na internacionalização sabíamos que estávamos preparados, foi um processo bastante consciente relativamente ao nosso potencial, e sempre acreditámos no nosso talento. Para primeiro projecto concordámos que devia ser uma história profundamente portuguesa, mas com apelo internacional, e quando surgiu em cima da mesa a sinopse da série Glória, não tivemos dúvidas que seria o projecto certo para a apresentar à Netflix.

– Fala-se também no estabelecimento de co-produções e nas relações privilegiadas com Espanha, em particular com a Galiza, que têm dado e continuam a dar frutos. Na sua perspetiva, estas relações são de encorajar?

– Todas as relações são de encorajar, desde que façam sentido para as histórias que queremos contar. No caso de Espanha e Brasil, a geografia e a língua tornam-nos parceiros privilegiados para a co-produção. Esse caminho tem sido feito, de forma mais intensa com a Televisão da Galiza, e entendo que é de continuar a reforçar laços. A Globo, para quem estamos agora a produzir o CODEX 632, em parceria com a RTP, também já é um velho conhecido e acreditamos muito nestas relações que se foram construindo.

– Entretanto, apesar da pandemia, a SP Televisão esteve sempre em laboração. Quer recordar a superação desse período mais crítico?

– Foi um período muito difícil. Estivemos parados quase dois meses e, ao retomarmos a actividade, a forma de produzir mudou radicalmente. Por outro lado, foi um momento de união em que todos deram o seu melhor para superar as dificuldades. Sentimos a SP Televisão como uma grande família, e isso foi fundamental para superarmos as dificuldades.

– O que está por fazer no percurso da SP Televisão? Acarinha algum projeto em particular, ainda por concretizar?

– Temos tanto por fazer! Por agora acarinho os projectos que estamos a produzir.

– Dadas as suas responsabilidades como CEO, está envolvido em todas as vertentes da empresa, não é verdade? Como define as relações com os operadores, clientes da SP Televisão?

– São relações de parceria. A nossa actividade é sobretudo sobre confiança. Os clientes acreditam que somos capazes de concretizar as histórias, e a visão para os projectos, que lhes vendemos no pitch. E o facto de termos vindo a superar-nos a cada ano ajuda a reforçar essa confiança.

– No termo destes quinze anos, o que corresponde a uma experiência significativa, é possível ir ao encontro do que o público quer? Ou os públicos, pois são diversos. Ou essa questão continua a ser uma incógnita?

– Não existem fórmulas para o sucesso, mas temos de tentar, a cada momento, entender o que o público pode querer vir a consumir.

– Como encara o futuro da SP Televisão e do Audiovisual no âmbito mais lato, no quadro que atualmente atravessamos, na Europa, em particular?

– De forma optimista. Vivemos numa sociedade dos ecrãs, em que o consumo de ficção tem vindo a aumentar. Nesse sentido, acredito que é fundamental construir uma home base sólida, ajudando os nossos clientes a imporem-se no mercado, e investir no crescimento da co-produção e produção internacional.

25 de julho de 2022