Com base nas reservas realizadas até ao início da Primavera no Grupo AP Hotels & Resorts, espera-se um ano turístico com resultados semelhantes ou melhores do que em 2019, o melhor ano de sempre do Turismo em Portugal, sustentado pela procura que privilegia a segurança que o País proporciona, entre outros fatores. Paulo Ramada, administrador da Madre Turismo, holding que detém aquele grupo hoteleiro de seis unidades no Algarve, levanta o véu sobre a próxima temporada turística, em entrevista, enquadrando-a no atual quadro pós-pandemia e em contexto de guerra na Ucrânia.
– A questão que lhe ponho, para começar, é genérica: como encara a próxima temporada para o Grupo AP Hotels & Resorts, no Algarve, quando a expectativa inicial era de recuperação, depois de dois anos atípicos. Entretanto, estalou uma guerra e os mercados procuram Portugal pela segurança que proporciona, além de tudo o mais. Gostava de o ouvir sobre a grande singularidade do contexto em que a atual temporada surgiu.
– A verdade foi que estimávamos um ano de recuperação, em relação a 2021, mas, ainda assim, abaixo de 2019. Os factos têm-nos mostrado que o mercado está ansioso por voltar a gozar férias em 2022, está ansioso por sair e, portanto, temos tido reservas e perspetivas superiores ao que imaginámos e estamos neste momento já a níveis de 2019.
– E o ano de 2019 já era um ano considerado o melhor dos últimos?
– O 2019 foi o melhor ano de sempre! Portanto, neste momento, com as reservas que temos em carteira, apontamos para que 2022 possa ser um ano equivalente, ou melhor ainda do que 2019.
– Quando fala nessas perspetivas, está a fundamentar-se nas vossas reservas, já com dados concretos?
– Não são perspetivas, referem-se ao andamento das reservas em carteira, que nos permitem dizer que estamos ao mesmo nível de 2019.
«Voltámos a ter uma forte procura dos mercados tradicionais»
– De onde é que vêm essas pessoas, em termos geográficos? Calculo que Portugal também esteja aí incluído, porque foi sempre um mercado expressivo para o Grupo.
– Neste momento, temos já reservas dos mercados tradicionais, inglês, alemão e francês, os que habitualmente reservam com maior antecedência. E, portanto, voltámos a ter uma forte procura desses mercados. Os mercados português e espanhol são os que reservam mais tardiamente, pelo que ainda não é o mercado português que está a fazer a diferença, mas sim o internacional.
– Como é que o Grupo AP Hotels & Resorts gere a situação de inflação que se está a verificar?
– A situação já era esperada, porque, já antes da guerra na Ucrânia, os sinais indicavam que ia haver inflação. Os nossos orçamentos foram feitos tendo em conta essa situação particular, com especial ênfase na rubrica “Comidas e Bebidas”.
– Não foram apanhados de surpresa?
– Já contávamos com uma situação de inflação, porque já não é uma realidade apenas de agora e que tem vindo a ser latente nos últimos meses do ano de 2021, devido ao desequilíbrio entre a oferta e a procura, decorrente do acelerar da atividade económica. A grande surpresa tem acontecido desde o despoletar da Guerra da Ucrânia no incremento exponencial das fontes de energia como o gás, eletricidade e combustíveis. Este incremento acaba por ter um efeito multiplicador em todo o tecido produtivo originando uma “nova” inflação, sobre aquela que já vinha desde o ano passado. Por isso, a resposta objetiva é que já tínhamos provisionado um aumento geral dos preços, que neste momento terá que ser ajustado com esta realidade.
– Falou em escassez de materiais. Está a referir-se a materiais de construção, ou a bens alimentares? E qual destes âmbitos afeta mais o Grupo?
– Ambas as situações são aplicáveis e afetam igualmente o Grupo, só que em fases diferentes da construção de valor. Os bens alimentares implicam um incremento no custo operacional da atividade e a primeira, materiais de construção, influencia a rubrica de Capex, que inclui investimentos em melhorias, não visíveis pelos clientes, mas nas áreas técnicas, nomeadamente no que respeita a eficácia energética, na melhoria das redes de água, etc. Assim como do investimento que fizemos na construção de mais 72 quartos no AP Cabanas Beach & Nature, o que conferiu ao hotel outra dimensão. Este ano, em vez dos 202 quartos com que operávamos, já vamos operar com 274.
– E como se defende? As obras estão feitas, esse capítulo está encerrado. Ou não?
– Esse assunto estará encerrado em maio, no AP Cabanas Beach & Nature. Nos outros hotéis, que já estão abertos, esse capítulo está encerrado e já estamos na fase de operação. No AP Cabanas, o termo da obra ocorrerá na primeira semana de maio.
– Quer detalhar a situação de cada hotel, os que estiveram abertos no Inverno e os que abriram agora?
– O AP EVA Senses, em Faro, e o AP Victoria Sports & Beach, em Albufeira, não encerram habitualmente no Inverno e foi o que aconteceu este ano. O EVA, por via da sua atividade de cidade, é um pouco diferente dos outros hotéis, e o Victoria, pela particularidade de ser muito focado no desporto, durante o Inverno, em estágios desportivos de alto nível e, portanto, essas atividades não pararam. Tivemos e temos, neste momento, muita atividade a nível de desporto.
– Os restantes encerram durante o Inverno…
– Os outros hotéis encerraram durante um mês cada um, em janeiro e primeiros dias de fevereiro, para melhorias (o AP Maria Nova Lounge, em Tavira, e o AP Oriental Beach, na Praia da Rocha, em Portimão). Quanto ao Adriana Beach Resort, na Praia da Falésia, em Albufeira, tradicionalmente encerra na primeira semana de novembro e foi o que aconteceu, e reabriu na primeira semana de março. Demos a volta a todos, em áreas que achámos que seria mais importante intervir. O AP Cabanas Beach & Nature encerrou no fim de outubro e reabre hoje, 8 de abril.
– Quanto à dificuldade de recrutamento, tema recorrente quando se fala de Turismo. Quais os contornos dessa situação, neste momento?
– A situação do recrutamento é difícil, porque não há pessoal disponível no mercado de trabalho, ou há pouco, mas é assim há 10 anos. Não é um dado novo, em parte normal de uma atividade que exige uma forte elasticidade de mão-de-obra ao longo do ano.
– Não é uma novidade, este ano, que depara com dados novos noutros âmbitos. É um problema que vem de trás.
– É um problema que vem de trás, que não tem tido resolução, mas que todos os anos temos de enfrentar. E enfrentamos, mas não é uma questão nova, é estrutural e agravada durante a pandemia, já que parte da força de trabalho que eram imigrantes ter retornado ao seu país de origem. Efetuar de novo esse passo padece, neste momento, de mais confiança.
«A data da BTL é bem escolhida, porque é possível concretizar negócios para a própria época»
– Quanto à presença do Grupo AP na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), que decorreu há 15 dias, que balanço faz? Surgiu algum fator na feira que tenha repercussão para os hotéis? E que importância atribui à presença na BTL?
– Este ano, a BTL teve uma importância acrescida, porque depois de dois anos de pandemia, em que não houve reuniões presenciais, esse paradigma mudou. E as pessoas estavam ansiosas por se encontrarem, por fecharem novos negócios e isso aconteceu na feira.
– Está a referir-se aos profissionais do setor?
– Exatamente. Teve uma importância acrescida, porque a BTL se transformou, de repente, num espaço de concretização de negócios, e não apenas oportunidade de mostrar os produtos e a nossa oferta, mas de concretização de negócios efetivos. E de fecho de contratos.
– O contacto presencial continua a ter importância?
– Continua a ter muita importância e a BTL demonstrou-o, porque houve efetivamente concretização e fecho de contratos, ainda para esta época.
– Significa que faz sentido uma feira, que é a referência do Turismo do País, no início da Primavera, porque ainda há coisas que podem acontecer?
– A data é bem escolhida, porque é possível ainda concretizar negócios para a época em curso.
– Quer revelar alguma realização em particular?
– Apresentámos um stand novo, que foi feliz na sua idealização, porque permitiu a realização de várias reuniões simultâneas dos nossos comerciais. Foi muito útil e a adesão foi grande. A procura pelos operadores turísticos foi bastante elevada, portanto o objetivo foi cumprido.
– Quanto à presença do público, foi expressiva ou residual? As pessoas aparecem para conhecer as novidades, para fazerem marcações ou apenas para se informarem?
– A feira é estritamente profissional na 4.ª e 5ª feiras e, no fim de semana, aí sim, é aberta ao público. As pessoas habitualmente vão à feira para tomarem conhecimento das novidades e depois fazem as suas reservas diretamente.
– Por falar em novidades, quer revelar alguma que tenha de ver com a nova temporada e que se prenda com as experiências do público, quando se sabe que foi posta em prática a possibilidade de realizar diversas funcionalidades a partir de smartphones?
– Criámos um projeto-piloto no AP Cabanas, para quem quer uma maior liberdade de funcionamento. É possível realizar uma série de funcionalidades a partir do telemóvel, antes de chegar, das reservas ao controlo da temperatura do quarto, passando por reservas de almoços, jantares, etc. Mas apenas para quem quer…
– Quanto a novidades da temporada?
– Temos um hotel novo que, no ano passado, abriu durante quatro meses e este ano reabre com maior capacidade e com um novo restaurante grill, na piscina, uma novidade.
– Quanto a este ano, estará aberto até quando?
– Será o mercado que vai dizer.
– A nota para esta temporada é francamente positiva?
– Neste momento, é francamente positiva.
8 de abril de 2022